20 de abr. de 2011

ONÍVOROS



“..., do ponto d vista da evolução, faz todo sentido o fato de que carne de animais que pastam, cujo perfil nutricional tem grande semelhança com o da carne de caça, seja mais benéfica para nós. Ovos, leite e carne originários de animais que comem capim têm um índice menor de gordura total e têm gorduras menos saturadas do que os mesmos alimentos derivados de animas alimentados com grãos. Animais que se alimentam nas pastagens também contêm ácido linoléico conjugado(CLA), um ácido graxo que, segundo estudos recentes, pode ajudar a reduzir peso e a prevenir o câncer, e que não está presente nos animais criados em confinamento e alimentados com grãos. O mais importante, no entanto, talvez seja o fato de carne, ovos e leite de animais criados no pasto também conterem altos teores de ômega-3, ácidos graxos essenciais criados nas células de plantas e algas, e que desempenham um papel indispensável na saúde humana e em particular no crescimento e na saúde dos neurônios – as células do cérebro. (É importante frisar que os peixes apresentam teores mais altos do ômega-3 mais benéfico que os animais terrestres, contudo os animais alimentados com capim oferecem, sim, quantidades significativas de ômega-3 importantes, como o ácido alfalinoléico- ALA.) Restam ainda muitas pesquisas sobre o papel do ômega-3 na dieta humana, mas as descobertas preliminares são sugestivas: pesquisadores registram que mulheres grávidas que recebem suplementos de ômega-3 dão à luz bebês com QIs mais altos; crianças com dietas com baixos teores de ômega-3 apresentam mais problemas comportamentais e de aprendizado na escola: e filhotes de cachorro alimentados com dietas ricas em ômega-3 são adestrados com maior facilidade.(Todas essas afirmativas foram feitas em trabalhos apresentados num encontro realizado em 2004 pela Sociedade para o Estudo dos Ácidos Graxos e Lipídios) Uma das mudanças mais importantes – e no entanto uma das que chamaram menos atenção – ocorridas na dieta humana nos tempos modernos está na relação entre ômega-3 e ômega-6, o outro ácido graxo essencial encontrado nos nossos alimentos. O ômega-6 é produzido nas sementes das plantas; o ômega-3, nas folhas. Como diz o nome, ambos os ácidos graxos são essenciais, mas os problemas começam a surgir quando a proporção entre eles se desequilibra. (Na realidade, algumas pesquisas sugerem que a relação entre essas gorduras na nossa dieta pode ser mais importante do que a simples quantidade delas.) Uma proporção alta demais de ômega-6 em relação ao ômega-3 pode favorecer as doenças cardíacas, provavelmente pelo fato de o ômega-6 ajudar na coagulação do sangue, enquanto o ômega-3 contribui para que ele flua. (O ômega-6 é inflamatório; o ômega-3 é antiinflamatório.) Á medida que a nossa dieta – e a dieta dos animais que comemos – baseada nas plantas verdes passou a ser baseada em grãos (ou seja, do9 capim para o milho), a proporção entre ômega-6 e ômega-3 mudou de aproximadamente de um para um (na dieta dos caçadores e coletores) para dez para um. (O processo d hidrogenar o óleo também elimina o ômega-3.) ”... “As pesquisas nessa área prometem virar de ponta-cabeça muitas ideias convencionais ainda em vigor a respeito da nutrição. Sugerem, por exemplo, que o problema em se comer carne vermelha – há muito vinculada a distúrbios cardiovasculares – pode se dever menos ao animal em questão do que a dieta do animal. (O que pode explicar por existem populações que vivem da caça e da coleta hoje em dia, que comem muito mais carne vermelha do que nós sem sofrer as mesmas consequências cardiovasculares.) Atualmente salmões vêm sendo criados como gado, confinados e alimentados com grãos, com o resultado previsível de que seus níveis de ômega-3 caíram bem abaixo daqueles apresentados pelos peixes que vivem nos oceanos. (Esses últimos têm níveis particularmente altos de ômega-3 porque a gordura se concentra à medida que se sobe na cadeia alimentar a partir das algas e dos fitoplânctons que a produzem.) As noções convencionais hoje aceitas sustentam que o salmão é automaticamente melhor para nós do que a carne de vaca, mas essa avaliação parte da premissa de que a carne é de uma vaca alimentada com grãos e de que o salmão foi alimentado com krill. Se o novilho for engordado com capim e o salmão com grãos, talvez seja mais benéfico para nós comer carne bovina.(A carne de uma vaca que come capim tem ômega-6 e ômega-3 numa proporção de dois para um, comparada com dez para um num animal que come milho.) A espécie do animal que comemos pode vir a ser menos importante do que aquilo que o próprio animal está comendo.”
Fonte: O DILEMA DO ONÍVORO– Michael Pollan – Editora INTRÍNSECA Ltda – Págs 286/288.

Um comentário:

  1. http://examedevista.wordpress.com/2011/06/15/etica-politica-e-a-antropologia-da-carne/

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