“A origem não se encontra atrás de nós, ela está diante de nós.”
Heidegger
Pode-se dar um nome ao que ainda não apareceu, ao que apresenta um caráter incerto, caótico? Os antagonismos da modernidade alcançaram um grau paroxístico. Tudo se passa como se houvesse uma agonia, no sentido original da palavra, ou seja, uma luta entre as forças de vida e as forças de morte. Alcançaremos um estado metamórfico da modernidade? “Metamorfose” significa, simultaneamente, manutenção da identidade e transformação fundamental. É a lagarta que se transforma em borboleta após a fase de crisálida. Processos metamórficos estão em curso. Isso não quer dizer que a metamorfose é previsível, programada. Não elimino a incerteza e as probabilidades de regressão e até mesmo a destruição. Contudo, observadas essas precauções, eu diria que esses processos são visíveis, em nível planetário, no advento da globalização, que será a última era de constituição de um sistema nervoso sobre todo o planeta, graças a economia mundializada e às novas tecnologias de comunicação. Isso não representa a infraestrutura de um novo mundo que está para nascer?
Não se pode, entretanto, prever com segurança uma metamorfose na história da humanidade. Suponhamos que um observador extraterrestre tivesse chegado há cinco bilhões de anos em nosso planeta em estado de caos. Ele certamente retornaria à constelação Alfa do Centauro dizendo que nada de interessante ocorreria um dia na Terra; e isso no exato momento em que as macromoléculas estavam se constituindo em seres vivos. Em seguida, a partir de grupos isolados e nômades no Oriente Médio, nas bacias do rio Indo, na China, no México, costituíram-se as sociedades históricas, as civilizações. A metamorfose é invisível por antecipação.
Rumo ao Abismo? Edgar Morin – Ed. BERTRAND BRASIL - 2011
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